A Jaula de Ouro

A Jaula de Ouro
Na calada da noite, enquanto o mundo adormece em um silêncio pesado, um pássaro sonha. Seus olhos pequenos, abertos no escuro da gaiola, veem não as barras de ferro que o cercam, mas as vastas planícies do céu. Ele recorda o cheiro do orvalho nas folhas, a sensação do vento sob suas asas. Lembra-se daquele dia, quando o sol beijou a manhã e ele, em um impulso de alegria, lançou-se ao ar, dançando entre nuvens e montanhas.
O pássaro canta, mas seu canto não é de alegria. É um lamento antigo, um eco de todas as paisagens que ele não pode ver. Sua melodia fala de um coração que, embora bata dentro de uma jaula de ouro, anseia pela poeira da estrada. Ele anseia pela brisa que balança as árvores, pela chuva que limpa a alma, pelo horizonte infinito que o chama para além das cercas.
Ele não está sozinho em sua jaula. Outros corações, invisíveis e silenciosos, compartilham de seu destino. São sonhos engaiolados, planos que não podem voar. Ele escuta a voz deles em seu próprio canto: o lamento da tela em branco, da jornada não iniciada, da vida que espera do lado de fora.
O pássaro sabe que as grades são feitas de mais do que apenas metal. Elas são feitas de medo, de hesitação, de todas as “impossibilidades” que o mundo lhe sussurrou. Mas, na escuridão da noite, enquanto canta para a lua, ele também sabe que a gaiola existe apenas enquanto ele acreditar nela. A verdadeira liberdade não está no voo, mas no coração que se recusa a ser aprisionado. E é com esse pensamento que, em um momento de pura esperança, ele bate suas asas.

Dai Vargas

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Gosto de me expressar por meio de palavras que mostram a minha essência. Tocar corações é minha missão de alma.

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